A "mulherzinha"

Toda mulher tem medo da "mulherzinha" que existe dentro dela...
Principalmente as auto-suficientes, controladoras e inteligentes, com animus dominador...
Tem medo desse lado mais frágil, mais sutil, mais sentimental....
Confunde manifestação de carinho com fraqueza, tem medo de deixar que vejam que ela não é essa mulher toda...
A "mulherzinha" é doce, não tem medo de chorar, é ciumenta, adora se mostrar feminina e se enfeitar para o seu homem.
Ela faz tudo para agradar, sempre procura estar bem cheirosa e pronta para um afago.
Gosta de acarinhar, de beijar, de se mostrar sensual.
Chora num filme bobo, não quer ficar sozinha e compra um vestido novo e vai logo estrear.
A outras são o contrário da "mulherzinha".
Vestem a roupagem de Atenas e saem para conquistar o mundo, para mostrar que podem, que não têm medo de nada, quem têm controle absoluto de tudo e de todos...
Quanto engano....
Têm apenas mêdo do cor-de-rosa...
O mundo é cheio de possibilidades pra ser feliz, pra viver a vida com leveza...
Mas têm apenas medo que a "mulherzinha" pule de dentro delas e as façam passar papel de ridículo.
Quando abrem uma pequena fresta no coração e deixam entrar um pouquinho de sol, aí as coisas começam realmente a melhorar.
A menina sapeca que estava escondida mostra seu sorriso maroto e nos leva a aventurar ...
Talvez se tirarem as armaduras e ficarem nuas em frente ao espelho, vejam apenas a beleza da "mulherzinha"...
E o que era pequeno e minimizado, tomará então a proporção correta.
E a "mulherzinha" vire apenas mulher.

Angola num outro olhar...

Fazendo uma pesquisa para o trabalho, descobri uma Angola que não sonhava encontrar.

Lugares lindos, exóticos, mostrando toda a exuberência da sua beleza.

Florestas, praias, cachoeiras, desertos fantásticos...

Animais e plantas maravilhosos!!!

Lembrei-me da primeira vez em que vim aqui...

Conheci um casal de médicos que estavam hospedados no mesmo hotel que eu.

Partilhamos fotografias e impressões...

E que mais me chocou é que eles só viram a miséria,

Somente viram os lixões, as ruas sem asfalto, os esgotos correndo no meio da rua...

As crianças subnutridas, as pessoas doentes, o caos urbano...

Mas deixaram de ver as lindas paisagens, as potencialidades desse povo,

Que luta dia a dia pela própria sobrevivência.

Deixaram de ver a alegria de um sorriso, a singeleza da amizade masculina expressa pela mãos dadas, o companheirismo e afetos declarados, o grande respeito pelos mais velhos...

Para nós brasileiros que não sabemos o que é guerra,

Não temos como mensurar o esforço que esse povo está fazendo pela reconstrução do seu país.

Não percebemos que apesar de tudo há esperança.

Quando se conversa com essa gente, não vemos tristeza e nem abatimento pelos sofrimentos que passaram...

Muito pelo contrário, vemos o olhar para a frente, a vontade de ser feliz nessa paz conquistada tão duramente.

Sabemos das imensas desigualdades sociais que aqui existem,

Mas lembro de que no meu país isso também acontece.

Como urbanos que somos, fingimos que não conhecemos as misérias que se encontram entre a nossa própria gente.

Quem não tem medo de se aventurar pelos subúrbios de cada cidade brasileira,

vai encontrar esse mesmo cenário que vemos por aqui: lixo espalhado, esgotos na rua e ruas esburacadas.

Tento fazer o meu papel e ajudá-los a ter acesso ao melhor atendimento que a sua cidadania tem direito.

Tanto aqui como lá, faço de coração aberto ...

Mas não deixo me contaminar pelo lado escuro das paisagens, não deixo de ver a beleza que existe ao meu redor....