sábado, 17 de janeiro de 2009

Juntos e separados...



Ela estava sentada com suas miniaturas. Arrumando, dispondo, retirando, desmanchando o ambiente, o lugar, a sala ou a cozinha...
Ele apenas observava e pensava no despedício de atos, a criticava, pedia atenção, queria a sua atenção, apenas a sua atenção...
Ela se irritava, saia e voltava, estava inquieta, não queria ouví-lo, a sua presença já a esgotava.
Ele insistia na discussão, a arrudiava, a circulava, a prendia, a controlava...
Ela ia e vinha, tentando fugir, tentando se desvencilhar mas já se sentia derrotada.
Queria que a deixasse em paz, em silêncio, mas ao mesmo tempo reconhecia que ele estava certo e ela não lhe dava atenção...
Como conciliar sentimentos tão díspares, tão confusos, tão irritantes?
Dar-lhe atenção seria a sua completa submissão, entrega, remissão...
Será tão ruim assim??? Ou melhor o que é que é ruim nisso???
O tempo passava e a arrumação da casa não acabava....
Ele esperava impaciente, atento às suas reações....
Mitigava os sentimentos de raiva e impaciência, de expectativa e desejo....
Porque tanta resistência? Há razão para isso?
Ela se sufocava, o medo começava a minar-lhe o íntimo...
Qual passarinho em gaiola, ansiava pela liberdade, pela leveza de um breve vôo...
Ele sabia que não podia passar sem ela, que a seguiria para onde ela fosse, que velaria por ela...
Ela sentia aquela presença ao mesmo tempo ameaçadora e acalentadora que a defendia da solidão.
Não estava entendendo nada...
Tinha medo do tédio, do abandono, das coisas jogadas às traças.
Ele da separação, do isolamento, da insensatez...
Ela e ele inseparáveis no seu próprio tormento.
Como sombra um do outro, estariam para sempre juntos e separados...
Talvez um dia, a dualidade finalizasse seus limites e aí então, finalmente, poderiam compreender...

Um comentário:

  1. "Quando uma onda olha para outra onda é o oceano que olha para si mesmo"
    Pierre Weil

    ResponderExcluir